[...] Existe, minha amiga, uma arte de dar conselhos, e outra arte de os receber. Para mim, para meu gosto pessoal, o melhor e mais sábio conselho seria este: - “Faça o que quiser”. E, com isso, daremos, à pessoa, o direito de optar entre o bem e o mal, o certo e o errado. Porque ninguém tem mais direito, do que o principal interessado, de acertar ou errar. É preciso que ele fique com as consequências, glórias e prejuízos do bem e do mal que faz. Exemplifiquemos: se eu aconselho uma pessoa a proceder bem, e ela obedece, a virtude é minha, e não da pessoa. Outra hipótese: se eu digo “faça o que quiser” e ela procede bem, então, sim, o mérito é, realmente, da pessoa. Por outro lado, existe uma arte de receber conselhos. E essa arte consiste em não os seguir, salvo em casos excepcionais, e quando ele coincide, por acaso, com os nossos pontos de vista e a nossa sensibilidade moral. [...].
Rodrigues, Nelson. “Não se pode amar e ser feliz ao mesmo tempo: o consultório sentimental de Nelson Rodrigues” -- São Paulo: Companhia das Letras, 2002, p. 102.
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